Os meus pais vão separar-se! Como gerir as emoções?

Hoje, na aula de Mindfulness para Crianças, uma das minhas alunas levantou prontamente o braço quando perguntei quem tinha treinado os exercícios de respiração ensinados nas aulas anteriores. Disse-me que os fazia sempre que os pais discutiam. “Deixa-me mais calma…”, dizia ela. “Os meus pais vão separar-se!”, acrescentou. Percebi que era um assunto que a estava a incomodar e aproveitei para falar sobre a importância de gerir as emoções.

Há algo que é necessário deixar bem claro. Não há emoções positivas ou negativas, boas ou más. Há emoções. Ponto. E todas elas são importantes na regulação e desenvolvimento da inteligência emocional da criança.

Aprender a gerir as emoções depende da nossa capacidade de as reconhecer, respeitar, compreender e aceitar

O objetivo da regulação emocional não é disfarçar ou fazer de conta que emoções como a tristeza, raiva ou medo não existem. É, sim, aprender a lidar com essas emoções, de forma construtiva, para que possamos mais facilmente ultrapassar momentos difíceis ou resolver conflitos. Passa por perceber o que nos incomoda e o que nos faz felizes, por identificar os gatilhos que fazem despoletar essas emoções e por tornar cada vez mais consciente que nós não somos aquela emoção. Aquela emoção é uma reação, com uma duração e intensidade variável, que geralmente é desencadeada por um conteúdo mental ou estímulo externo.

Há 7 passos importantes na gestão das emoções que nos transtornam que podemos ensinar às crianças e adolescentes. E que os adultos também podem pôr em prática, claro!

  1. Para

Ao dares conta que surgiu uma emoção intensa e que te incomoda tenta parar. É normal que não o consigas fazer logo nas primeiras tentativas, mas com o treino começas a conseguir fazê-lo, evitando assim que as reações pré-programadas surjam, como, por exemplo, os gritos ou as birras.

  1. Respira fundo, acalma-te

Presta atenção à respiração e zonas do corpo nas quais a emoção se está a manifestar. O coração está a bater mais rápido? Sentes um aperto no peito? Dor na barriga? As pernas sem força? O importante é que, em vez de evitares essas sensações, tentes relaxar e acalmar, usando a respiração profunda.

  1. Tem consciência da emoção. Dá-lhe um nome.

Qual foi o gatilho que fez despoletar essa emoção? Foi uma determinada pessoa ou situação? Foi algo que ouviste? Foi algo que te lembraste ou imaginaste?

Dá agora um nome a essa emoção. É raiva? É medo? É tristeza? E o quê?

  1. Reconhece e aceita a emoção

Reconhece e aceita que a emoção que estás a sentir é uma reação à realidade que estás a viver. Fá-lo, sem lhe oferecer resistência ou rejeição, pois quando surgem servem para estabelecer a tua posição perante determinadas situações, pessoas ou ideias, permitindo-te tomar a decisão de aproximar ou afastar delas.

  1. Cuida dos teus pensamentos

Pode haver uma parte de nós que quer ficar presa a este estado emocional, mas se nos deixarmos levar por essa tendência, vamos ficar encalhados. Por isso, orienta os teus pensamentos para expressões que te empoderam como, por exemplo, “Eu sou capaz de lidar da melhor forma com esta situação!” Eu tenho em mim todas as capacidades para ultrapassar este momento difícil!”

  1. Liberta a emoção. Deixa-a ir

Quando a emoção já estiver menos intensa, toma consciência de que tu não és essa emoção. A emoção manter-se-á ativa enquanto for sustentada por pensamentos que a alimentam. Desapega-te cada vez mais da emoção e deixa-a ir.

  1. Se necessário, age de acordo com a situação

É claro que há situações que podem merecer algum tipo de resposta da tua parte. Se for esse o caso, só depois de teres aplicado os passos anteriores, estarás nas melhores condições de o fazer. Assim, evitas reações precipitadas que podem ter consequências desagradáveis ou que podem, inadvertidamente, magoar as outras pessoas.

A forma como ensino estes passos aos meus alunos difere de acordo com as faixas etárias, pois as crianças aprendem mais facilmente através da utilização de objetos ou atividades lúdicas. Podes ver algumas aqui. E é claro que, quanto mais treino existir na prática de meditação/mindfulness, mais facilmente aprendes as gerir as emoções.

Boa prática!

Carla Bulhões

Fundadora Academia Agora Eu Sou

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